“Se o que fizemos nos últimos 17 anos foi mudar a situação da oncologia pediátrica no Brasil, é por conta da nossa capacidade de compreender a complexidade da saúde pública, as necessidades e sentimentos das crianças, adolescentes e seus familiares. Imaginando-nos nas mesmas circunstâncias ou simplesmente sabendo colocar-nos no seu lugar. Isso é a arte da empatia! Acredito que se queremos avançar com mudanças nos indicadores de mortalidade, faz-se necessário aprofundar o “entendimento” de todas as partes interessadas e escutar mais suas percepções sobre o Instituto, o que inclui suas ideias, suas contribuições, sua relação cotidiana com nossos programas, suas preocupações e suas aspirações. Precisamos levar essas percepções para dentro da organização e trabalhar para frente e avante”. Diz Helen Pedroso, de 40 anos, a nova Gerente Geral do Instituto Ronald McDonald.
No ano em que o Instituto Ronald McDonald completa 17 anos, com um novo presidente do Conselho de Administração e nova gerente geral, Helen Pedroso se propôs a entrevistar os principais stakeholders da organização e investigar sobre o alcance e o papel do investimento social Instituto no Brasil no cenário da luta contra o câncer infantil e juvenil.
A pesquisa envolverá cerca de 60 pessoas representando grupos de stakeholders do Instituto e serão realizadas entre janeiro e março de 2016 – organizada em 7 blocos de perguntas abertas, sendo um tópico extra incluído após reincidência sobre o assunto. Os temas enfrentados são: conhecimento e percepção sobre o Instituto, seu alinhamento com as necessidades locais e da causa, sua gestão e comunicação e a opinião sobre o envolvimento e posicionamentos tanto da empresa mantenedora quanto da rede de parceiros.
A metodologia foi inspirada na ferramenta Mapa de Empatia, que é normalmente utilizada para documentar um perfil de clientes para melhorar campanhas de marketing, aprimorar produtos ou auxiliar em outras decisões sobre o negócio. “Através dos diversos olhares e pontos de vista, buscarei identificar as necessidades de melhoria e juntos iremos recombinar o futuro do Instituto e potencializar o investimento através de parcerias cada vez mais fortes e diversificadas”, explica a gerente.
Helen assume o escritório no Rio de Janeiro em um momento de maturidade da instituição. E enfrenta o desafio de mostrar que com a força da rede dos voluntários, das instituições e hospitais, dos médicos, das empresas parceiras, dos conselheiros entre tantos outros que fazem parte da história dessa luta, além da força da marca do seu principal mantenedor, o McDonald’s, todos juntos, o Brasil pode salvar muito mais crianças e adolescentes, dando qualidade de vida para elas em suas famílias.
A escolha de Helen Pedroso para a gerência geral do Instituto Ronald McDonald foi à conclusão de um processo de seleção nacional para o cargo que o engenheiro Roberto Mack ocupou nos últimos 12 anos. Formada em Psicologia pela PUC-SP, Helen é especialista em Educação pela PUC-Rio, com mestrado em Serviço Social pela Universidade George Mason, EUA, e tem MBA em Gestão de Negócios Sustentáveis pela UFF. Com grande experiência na área de Responsabilidade Social, até o final de 2015 trabalhou na ONG CIEDS como diretora de Desenvolvimento e Relacionamento Institucional e previamente como coordenadora executiva da organização. No SESC-Rio, implantou a primeira gerência de Responsabilidade Social Corporativa do SESC no Brasil. Antes, foi fundadora do Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial enquanto coordenava o Instituto Coca-Cola Brasil. Já atuou na Fundação Xuxa Meneguel, no Melwood Horticultural Training Center, nos EUA, e na Secretaria Estadual de Ação Social e Cidadania do Rio de Janeiro.
Exercendo a função desde janeiro de 2016, Helen afirma que se sente “muito honrada” por ter sido escolhida para gerenciar uma organização com tamanha reputação e relevância para causa do câncer infantil e juvenil. “Nossa principal tarefa agora é repensar o papel do Instituto Ronald McDonald diante dos novos desafios que surgem e torná-lo cada vez mais forte. Se você olha com perspectiva de longo prazo, avançamos muito. Houve uma considerável redução na mortalidade infantil e juvenil por causa de câncer e há uma reflexão importante sobre o diagnóstico precoce na saúde pública brasileira, mas a situação ainda é séria. Temos desafios muito grandes pela frente”, exalta a gerente.
Confira a entrevista com Helen Pedroso:
Como suas experiências anteriores contribuem para os novos desafios no Instituto Ronald McDonald?
Helen – Às vezes a vida nos surpreende e parece que estamos sendo preparados para algo sem saber. É com extrema alegria e entusiasmo que aceito fazer parte do time do Instituto. É importante destacar que este convite representa um marco na minha carreira e um reconhecimento por uma trajetória profissional totalmente dedicada ao investimento social.
Destaco algumas experiências, como o trabalho realizado na ONG Melwood, uma das maiores empregadoras de pessoas com deficiência dos Estados Unidos, lá eu pude ter uma nova visão do terceiro setor. Por conta das diferenças culturais e jurídicas, as organizações tem um modelo diferenciado de operação e não exclusivamente dependente de um tipo específico de financiador como governos e empresas, além de serem muito avançados e bem sucedidos nas ações de captação com pessoas físicas. Por meio de sua atividade principal, as organizações oferecem soluções, produtos ou serviços de alta qualidade que propiciem seu desenvolvimento pleno dos indivíduos que tem carências estruturais – educação, saúde, habitação, serviços financeiros, tecnologias voltadas à assistência social.
Ao retornar para o Brasil, trabalhei diretamente com diversas empresas apoiadoras da Fundação Xuxa Meneghel como coordenadora de relacionamento institucional e concomitantemente cursei um MBA na UFF sobre negócios sustentáveis, tendo a oportunidade de aprimorar conhecimentos sobre responsabilidade social, sustentabilidade, finanças e planejamento. Ampliando a minha rede de relacionamento acabei fazendo um movimento de carreira para o Instituto Coca-Cola Brasil, onde fiquei por 4 anos. Essa experiência foi o grande divisor de águas da minha carreira, com a oportunidade de participar da adaptação da plataforma de sustentabilidade global para realidade brasileira e através de um viés forte de planejamentos com inteligência do negócio, pudemos focar nas comunidades e suas necessidades locais. Foi um importante crescimento e ganho profissional.
Você atuou também no SESC e na ONG CIEDS, com atuações bem relevantes sobre gestão organizacional, quais as contribuições dessas vivências para a atuação no Instituto?
Helen – Da experiência no CIEDS destaco o fato da organização ser uma ONG moderna, saudável financeiramente, com uma diversificação de parceiros e temáticas de atuação. É uma instituição que soube se reinventar, sempre buscando novas formas de captar e engajar pessoas em redes. Já no SESC, eu tive oportunidade de criar uma nova área, eu tinha uma página em branco e pude desenhar um processo do zero, implementá-lo e alcançar resultados significativos em 22 estados, gerenciando mais de 50 colaboradores. Foi uma grande oportunidade.
Qual sua avaliação sobre a atuação do Instituto Ronald McDonald?
Helen – Uma organização respeitada e respeitável por toda a seriedade na atuação na oncologia pediátrica. Admiro muito o trabalho do Instituto, pela força da marca de seu principal mantenedor e pela causa que representa que é muito forte e que vem sendo trabalhada nessa rede de instituições construída no Brasil de forma inovadora, com base na força da comunidade e dos voluntários. Temos grandes fortalezas nesse processo, sabendo usar o melhor de cada uma dessas potencialidades, não há limites para a capacidade de influência e mudanças positivas para a causa.
A princípio, você identifica mudanças significavas para a gestão do Instituto?
Helen – Temos o desafio de aumentar nossos horizontes, essa força precisa ser internalizada. É preciso repensar nosso posicionamento e se enxergar como organização do terceiro setor, que consequentemente nos trará um olhar mais apurado para novas parceiras, olhar o mundo diferente, reforçando nosso papel como organização que inova e lidera processos e projetos, que é ágil, estando à frente de tendências, sendo um laboratório para novas tecnologias sociais; essa agilidade, naturalmente, acabaremos adquirindo. Tenho certeza que este momento é apenas o início de uma bela jornada e me emociono em imaginar o quanto podemos aprender e construir nessa atuação conjunta.